Em um mercado cada vez mais competitivo, enxergar o frete marítimo apenas como uma despesa inevitável é um erro de gestão. O custo visível, aquele que aparece na cotação inicial, representa apenas parte do valor real da operação. Por trás do número estampado no orçamento, existem variáveis que, quando não são monitoradas, comprometem margens, atrasam embarques e afetam o desempenho logístico como um todo. São os chamados custos ocultos do frete marítimo, e compreender como eles surgem é o primeiro passo para controlá-los e transformar a logística em um diferencial de resultado.
Quando uma empresa recebe a cotação de um embarque internacional, o preço informado normalmente cobre apenas o transporte entre o porto de origem e o de destino. No entanto, a movimentação de uma carga vai muito além desse trajeto. Antes mesmo de o contêiner ser embarcado, já existem custos relacionados ao transporte interno, ao manuseio portuário, à documentação obrigatória e às taxas administrativas. No destino, a história se repete: armazenagem, liberação, demurrage, detenção e taxas locais formam uma lista de encargos que se acumulam de forma silenciosa.
Esses custos extras podem representar uma diferença considerável entre o preço contratado e o valor efetivo pago ao final da operação. E o ponto central é que muitos deles não dependem apenas do prestador de serviço, mas também de fatores externos, como congestionamentos portuários, flutuações cambiais, variações no preço do combustível ou períodos de alta demanda.
Um dos principais vilões é a demurrage, cobrada quando o contêiner permanece no porto além do tempo livre (free time) concedido. Cada dia adicional gera uma cobrança que pode rapidamente ultrapassar o valor original do frete. Situação semelhante ocorre com a detenção, quando o contêiner fica em posse do importador ou exportador por tempo superior ao acordado. Somam-se a isso as taxas de armazenagem, que surgem quando há demora na retirada ou liberação da carga, e temos um quadro de custos que facilmente foge do controle se não houver acompanhamento rigoroso.
Outro ponto de atenção são as sobretaxas portuárias e operacionais, aplicadas por fatores diversos: portos congestionados, rotas alternativas, cargas de grandes dimensões ou variações no custo do combustível (conhecidas como BAF – Bunker Adjustment Factor). Há também encargos sazonais — como o PSS (Peak Season Surcharge) — aplicados em períodos de alta demanda. Em muitos casos, essas sobretaxas não aparecem na cotação inicial, sendo repassadas posteriormente ao embarcador.
A variação cambial é outro componente que não pode ser ignorado. Como boa parte dos fretes internacionais é cotada em dólar, a oscilação da moeda impacta diretamente o custo final da operação. Sem um planejamento financeiro adequado ou proteção cambial, o importador pode ser surpreendido por aumentos significativos no desembolso. O mesmo vale para a variação do preço do petróleo, que influencia diretamente o custo do bunker, combustível utilizado pelos navios, e pode gerar repasses adicionais durante o contrato.
Também há os custos associados à documentação e ao manuseio logístico. Taxas de emissão de conhecimento de embarque (BL), conferência de carga, consolidação e desconsolidação, transporte interno até o terminal e transbordos são frequentemente negligenciados. Em operações LCL (menos que um contêiner cheio), esses encargos são ainda mais sensíveis, pois a divisão por volume ou peso tende a elevar o custo proporcional por unidade transportada.
Ignorar esses detalhes compromete não apenas a rentabilidade, mas também a previsibilidade operacional. Uma empresa que não monitora seus custos logísticos com precisão fica vulnerável a atrasos, perda de prazos contratuais, ruptura de estoque e desgaste com clientes. O impacto vai muito além do financeiro: atinge a reputação, a eficiência e a capacidade de manter um padrão de serviço confiável.
Por outro lado, as organizações que tratam o frete marítimo como parte essencial da cadeia de valor conseguem transformar essa complexidade em vantagem competitiva. O primeiro passo é exigir transparência total na cotação. Um orçamento detalhado, que discrimine todos os componentes — frete base, taxas portuárias, BAF, THC, demurrage e eventuais sobretaxas — permite comparar propostas de forma justa e evita surpresas ao longo da execução.
O segundo passo é implantar indicadores de desempenho logístico. Monitorar métricas como tempo real de trânsito, índice de pontualidade (OTIF), custos por unidade transportada e histórico de despesas adicionais cria um banco de dados que permite agir com previsibilidade. Assim, em vez de reagir aos custos ocultos, a empresa passa a antecipá-los e neutralizá-los.
Outra medida essencial é diversificar parceiros e rotas. Depender de um único armador, porto ou agente é um risco que se traduz diretamente em custos quando surgem imprevistos. Ter alternativas de rota e fornecedores permite negociar melhores condições, evitar gargalos e ajustar a operação com agilidade. Essa flexibilidade é um atributo que distingue operações amadoras de estruturas logísticas maduras e bem coordenadas.
Também é fundamental revisar periodicamente os Incoterms e as responsabilidades contratuais. A escolha equivocada de um termo de negociação internacional pode transferir custos e riscos para o lado errado da operação. Revisar contratos e alinhar responsabilidades entre exportador, importador e prestadores de serviço é um cuidado que reduz a exposição a custos escondidos e aumenta o controle sobre toda a cadeia.
Por fim, o planejamento financeiro deve incluir uma margem de contingência. Variáveis externas como clima, política portuária, escassez de contêineres e oscilações cambiais fazem parte da realidade do comércio marítimo. Trabalhar com uma reserva orçamentária para esses cenários é uma prática de gestão de longo alcance que evita sustos e protege o resultado final.
Em resumo, o frete marítimo não é apenas um número a ser negociado, é uma engrenagem que, se mal ajustada, compromete toda a operação. Identificar e controlar os custos ocultos é um exercício de liderança logística: requer visão ampla, domínio técnico e parceria com agentes que priorizam transparência e eficiência.
Na Navcom, entendemos que excelência logística vai além do embarque. Nosso compromisso é com o controle de ponta a ponta, garantindo previsibilidade, segurança e performance em cada etapa do transporte marítimo. Quando o frete deixa de ser uma despesa imprevisível e passa a ser um ativo de resultado, a operação ganha ritmo, confiança e crescimento sustentável.


